Águas do Algarve – Água, um bem precioso

Denominada como um recurso natural essencial à vida humana, a água deve ser preservada e utilizada de forma consciente. Em entrevista à Revista Qualidade & Inovação, António Eusébio – Presidente do Conselho de Administração das Águas do Algarve – fala da importância da educação ambiental e descreve alguns projetos que irão decorrer no âmbito do Plano de Eficiência Hídrica. 

Apresente-nos as Águas do Algarve e a missão que levam a cabo.

A Águas do Algarve celebra este ano 21 anos de atividade, sendo motivo de muito orgulho para todos. A Empresa iniciou a sua atividade, no ano 2000, sendo concessionária, por um período de 30 anos dos Sistemas Multimunicipais de Abastecimento de Água e de Saneamento do Algarve, abrangendo todos os 16 concelhos da região, servindo cerca de 450 mil habitantes em época baixa e perto de um milhão e meio em época alta, nas áreas de tratamento e distribuição de água, bem como no tratamento dos efluentes domésticos.

Em 2019, foi assinado um novo Contrato de Concessão para o período 2019-2048. Este Sistema substitui os dois sistemas multimunicipais extintos, nomeadamente o sistema multimunicipal de abastecimento de água do Algarve e o sistema multimunicipal de saneamento do Algarve.

O Sistema abrange geograficamente os 16 municípios da região do Algarve, nomeadamente: Albufeira, Alcoutim, Aljezur, Castro Marim, Faro, Lagoa, Lagos, Loulé, Olhão, Monchique, Portimão, São Brás de Alportel, Silves, Tavira, Vila do Bispo e Vila Real de Santo António.

Somos responsáveis pelo tratamento e abastecimento de água, isto é, colocamos a água tratada para consumo humano nos reservatórios das Câmaras Municipais e tratamos toda a água residual dos 16 municípios. Quando esta chega aos nossos intercetores, estações elevatórias e posteriormente ETARS. Depois de tratada, parte desta água já é consumida internamente, reutilizando-a nas nossas instalações e em alguns campos de golfe, como por exemplo: Almancil, Salgados e Quinta do Lago. 

A nossa missão visa essencialmente garantir o abastecimento de água para consumo humano e o tratamento de águas residuais de acordo com os mais elevados padrões de qualidade e fiabilidade, num quadro de sustentabilidade económica, social e ambiental em toda a região algarvia.

A gestão e o abastecimento de água têm sido um desafio para a região algarvia?

No que respeita ao consumo humano, temos as barragens de Odelouca, Odeleite e Beliche. Nestas barragens, este ano, estamos relativamente tranquilos no que se refere às disponibilidades hídricas. Temos atualmente armazenados cerca de 156 hectómetros cúbicos de água. Sendo que consumimos, por ano, entre os 70 e os 75 hectómetros, podemos dizer que temos água para dois anos aproximadamente. Ainda existem outras barragens disponíveis, como é o caso da Barragem do Funcho que se destina à agricultura, gerida pelos regantes e que tem cerca de 35 hectómetros de água. Em relação ao ano passado o Algarve está “mais folgado” neste recurso, o que não quer dizer que não tenhamos de ser eficientes e trabalhar afincadamente para garantir os próximos anos. Temos consciência que tudo vai depender das frequências das chuvas e dos próximos invernos. 

A água é um elemento essencial para a vida humana. Que investimentos tecnológicos são feitos para garantir a qualidade da mesma? 

Trabalhamos para que não existam perdas nos nossos sistemas. Naturalmente, existem sempre algumas devido às lavagens dos filtros das nossas ETAs mas são perdas muito residuais. 

Existe tecnologia para evitar o desperdício. Através da medição dos caudais, conseguimos saber a montante e a jusante o que é que está a acontecer e no momento de abastecimento de água conseguimos detetar, acompanhar e monitorizar todo o sistema. 

Quais são os principais investimentos realizados pelas Águas do Algarve?

Por um lado, temos o contrato de concessão que tem de ser gerido ao longo do tempo. Recentemente, acabámos uma empreitada muito importante para o Barlavento que é o reforço da ETA (Estação de Tratamento de Água) de Alcantarilha, onde temos uma nova flotação com duas linhas que vieram reforçar o sistema de filtração e tratamento da água para consumo humano. Permite-nos acrescentar 1200 litros por segundo ao que já tínhamos, isto para dar mais robustez e mais eficiência ao sistema. Com este sistema gastamos menos energia, produzem-se menos lamas e, por outro lado, conseguimos fornecer e ter maior capacidade de abastecimento de água. Esta obra é o exemplo do investimento e inovação que a Águas do Algarve promove na Região, garantindo sempre a qualidade das instalações, o seu bom estado, a sua melhoria, para que não hajam problemas com estes sistemas. Este é um setor que tem de estar sempre em funcionamento e onde não se pode falhar. 

Para além destas obras, no presente ano estão a decorrer a Nova Reserva de Abastecimento ao Barlavento, um novo reservatório, que vai estar terminado no final deste ano, lançámos o concurso para uma secagem solar de lamas, localizada em Vila Real de Santo António, e em breve iniciará a obra de melhoria do sistema de saneamento de Aljezur, o qual prevê a eliminação da  ETAR do Rogil e do Carrascalinho.

Para além da monitorização e investimentos contínuos no Sistema Multimunicipal de Abastecimento de água e de Saneamento, a Águas do Algarve efetua um acompanhamento muito próximo com todos os 16 municípios da região, na identificação daqueles que poderão ser os investimentos necessários nesta área.

Em que consiste o Plano de Resiliência e Recuperação? E que outros projetos estão pensados?

O Plano de Resiliência e Recuperação complementa o Plano de Eficiência Hídrica que vem contemplar medidas para o Algarve (no que respeita à responsabilidade da Águas do Algarve) para que consigamos ter, até 2026, um sistema mais robusto, que garanta o fornecimento de água contínuo em quantidade e qualidade, considerando os reflexos das alterações climáticas que cada vez se sentem com maior intensidade, onde os períodos de seca são mais constantes. 

Este plano de eficiência traz-nos ainda projetos de menor dimensão, como é o caso da captação do volume morto da Barragem de Odeleite, em que podemos ir buscar entre 15 a 20 milhões de metros cúbicos (hectómetros) de água. São volumes que não escorrem pela barragem, estão em bolsas e que podemos aproveitá-los para a nossa barragem de Beliche e integrá-la no sistema de abastecimento.

Outro projeto é o reforço da interligação Barlavento e Sotavento. O Algarve tem uma conduta que abastece desde Vila Real de Santo António até Lagos/Aljezur. Esta conduta consegue transportar 400 litros por segundo. O que se pretende com esta obra é reforçar para 600 litros, garantindo assim um reforço no abastecimento. 

Depois temos duas grandes obras: o projeto de dessanilização prevê que consigamos ir buscar água ao mar e fornecer oito milhões de metros cúbicos por ano e outro projeto para ir buscar água ao Pomarão, no rio Guadiana, transportando essa água para a barragem de Odeleite e a partir daí entrar no nosso sistema de tratamento e distribuição.

O último projeto são as ApRs – Água para Reutilização – que consiste em tratar a água das ETARs para utilizá-la em diversos fins, seja em campos de golf, na agricultura ou na lavagem de ruas. Já temos uma obra lançada, em Vila Real de Santo António, para fornecermos dois campos de golfe em Castro Marim. 

Estes cinco projetos são os que estão previstos no Plano de Eficiência Hídrica e que através do Plano de Resiliência estamos a preparar os procedimentos para se lançar numa primeira fase os projetos e noutra os concursos de execução. 

Entrevista Teresa Fernandes, responsável Comunicação e Educação Ambiental da Aguas do Algarve: 

De forma a sensibilizar os mais jovens, que iniciativas estão a ser desenvolvidas no âmbito da educação ambiental?

O Algarve é muito mais do que apenas sol, praia, bom tempo e férias de verão.

Desde sempre que as questões ambientais estão presentes na estratégia de desenvolvimento da Águas do Algarve. Cada vez mais, e tendo-se presente os recentes dados mundiais relativos às previsões e respetivas consequências resultantes das Alterações Climáticas, todas as ações que possam ser promovidas junto da população no desenvolvimento da necessária consciência ecológica, proteção e valorização do ambiente são muito bem-vindas. Alertar a população, através de realização de diferentes ações, para a hipótese de escassez muito antes da água faltar nas torneiras é essencial. A Águas do Algarve, associada à sua principal atividade (abastecimento de água para consumo humano e tratamento das águas residuais urbanas) assume um forte compromisso com o Desenvolvimento Sustentável. A preservação do ambiente está incorporado em todas as atividades e ações que a empresa opera na região, havendo, inclusivamente, um contínuo investimento no desenvolvimento de projetos inovadores, em parceria com entidades várias. Destacam-se a própria Holding Águas de Portugal, a Universidade do Algarve, o LNEC, Agência Portuguesa do Ambiente, várias ONGS nacionais e regionais, a ABAE, Escola Azul, Zoomarine, municípios da região, entre outros, que nos permitem manter uma atividade educativa mais alargada e dirigidas aos vários públicos de diferentes faixas etárias, e diferentes formações.

Importa reforçar o esforço contínuo que é efetuado na vertente da comunicação e sensibilização dos consumidores para as questões associadas ao desenvolvimento sustentável e consequente consciência ecológica, bem como para a importância da contribuição quer da empresa quer de todos para a conservação dos ecossistemas e da biodiversidade na nossa região. Temos de ser exigentes em termos de sustentabilidade dos Recursos, consumindo menos do que aquilo que produzimos, como é o caso da água, que está com o modelo revertido, i.e consumimos mais do que aquela que conseguimos produzir.

Gostaria de destacar as campanhas de sensibilização para o uso eficiente da água que a empresa promove ao longo de todo o ano, adaptando-as às circunstâncias e diferentes públicos-alvo. É o caso da campanha que estamos a iniciar neste preciso momento na região sob o mote “Desperdiçar hoje, é faltar amanhã”.  O Consumidor tem de aprender a ser mais inteligente nas escolhas que faz, em prol da saúde da saúde humana e da sustentabilidade dos recursos naturais.

Os oceanos são outra questão de elevada importância. Com a iniciativa da ONU que identifica a década dos oceanos com a urgência na proteção do maior bioma do planeta, não nos deixa, evidentemente indiferentes, estando a área de educação ambiental também para aqui direcionada e em desenvolvimento de projetos. Recentemente, através das redes sociais Facebook (https://www.facebook.com/aguasdoalgarve) e Instagram (https://www.instagram.com/aguasdoalgarve/), e no nosso sitio web (www.aguasdoalgarve.pt )  foi desenvolvida uma ação intitulada #30days #30sketches, em foram criadas mensagens e comunicações através de ilustrações efetuadas a aguarela, em que durante 30 dias, diariamente, foram levantadas e introduzidas questões associadas aos oceanos, permitindo aos nossos públicos uma maior aprendizagem sobre esta temática, promovendo o necessário sentido critico, para uma sociedade que se pretende mais justa e equilibrada. Temos de aprender a ser mais exigentes connosco, com as escolhas que fazemos, com o consumo e com o ambiente.