Crioestaminal – Tecnologia e Investigação ao serviço da saúde

Pioneiros na criopreservação de células estaminais, em Portugal, a Crioestaminal reafirma a sua posição no desenvolvimento de novas terapêuticas, celebra acordos de cooperação com unidades hospitalares nacionais e, como afirma André Gomes, Diretor Geral da Crioestaminal “em três meses produzimos um medicamento com células estaminais mesenquimais, (…) para doentes com pneumonias graves decorrentes de infeção por COVID-19”.

A Crioestaminal inaugurou, em junho deste ano, uma unidade de produção de medicamentos de terapia celular no maior parque de biotecnologia do País, o Biocant Park, em Cantanhede. Explane os objetivos da criação desta unidade e quais as terapêuticas em que vão incidir os seus ensaios.
A Crioestaminal foi o primeiro banco de criopreservação de células estaminais da Península Ibérica, atualmente com 17 anos de experiência. Além de continuarmos a garantir a todas as famílias, que se encontram à espera de um filho, que guardamos a melhor amostra de células estaminais do cordão umbilical para um eventual tratamento futuro, estamos também comprometidos com o desenvolvimento de novas terapias com células estaminais, de modo a contribuirmos para o acesso de todas as famílias a terapias inovadoras.
É no âmbito deste nosso compromisso com a Investigação e Desenvolvimento que surge a nova unidade de produção de medicamentos de terapia celular, com uma área de 150 metros quadrados e que representa um investimento de 1 milhão de euros, permitirá a produção de medicamentos para ensaios clínicos e terapias experimentais de diversas áreas da Medicina, e abre a possibilidade de integrar consórcios internacionais na área das terapias celulares.
O investimento neste projeto já permitiu o desenvolvimento de um medicamento experimental à base de células estaminais para tratar doentes com COVID-19 em situação mais grave.
Esta nova unidade de produção permitirá numa primeira fase a produção de medicamentos experimentais para doenças como AVC, Doenças Autoimunes e a Doença do enxerto contra o hospedeiro e COVID-19 e pretende tornar-se uma referência na Europa. Esta aposta surge na sequência de projetos anteriormente desenvolvidos em parceria com universidades portuguesas, dos quais já resultaram quatro patentes para novas aplicações – nas áreas do cancro, cardiovascular ou pé diabético.

Celebraram uma parceria com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) que visa o desenvolvimento de dois projetos distintos: o Stroke Therapy e o RescueCord. Em que consistem estes projetos?
O objetivo de ambos os projetos é o desenvolvimento de medicamentos com células estaminais para tratamento de doentes, no âmbito Stroke Therapy são doentes que sofreram acidentes vasculares cerebrais (AVC), e no âmbito do RescueCord são recém-nascidos que ficaram privados de oxigénio no momento do parto.
O projeto Stroke Therapy consiste em utilizar células estaminais para recuperar doentes que sofreram AVC isquémicos agudos, aplicando as suas próprias células estaminas, retiradas da medula óssea, na zona lesada do cérebro. Este estudo é um ensaio clínico que começará a recrutar doentes nos próximos meses, trata-se de uma técnica inovadora em Portugal e a nível internacional, que vai ser testada em 30 doentes. Este ensaio surge depois de trabalhos anteriores e é uma parceria com a unidade de AVC do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Centro de Neurociências e Biologia Celular de Coimbra, Hospital Rovisco Pais e a Crioestaminal.
Relativamente ao RescueCord, o projeto visa o fabrico de um novo produto de terapia celular a partir de sangue do cordão umbilical autólogo (isto é, do próprio dador) para a sua aplicação clínica em recém-nascidos com encefalopatia hipóxico-isquémica. Será ainda investigado o mecanismo de ação do produto e avaliados os potenciais biomarcadores desta doença.

Pioneira na criopreservação de células estaminais em Portugal, tornou-se o maior banco da Península Ibérica e integra, atualmente, o maior grupo europeu da área. O investimento em I&D e em recursos humanos altamente especializados são fatores que contribuíram para o vosso sucesso e crescimento ao longo destes 17 anos de atividade?
Sem dúvida, o Grupo que atualmente integramos o Grupo FamiCord, partilha os valores e visão que nos movem e, em conjunto, criamos o maior grupo de bancos de criopreservação de células estaminais da Europa. Esta união potencia o desenvolvimento de novas terapêuticas que, consequentemente, permitem tratar mais doentes, o que favorece naturalmente o crescimento da área das células estaminais em Portugal.
O nosso percurso não teria sido o mesmo sem um conjunto de colaboradores altamente qualificados que reunimos ao longo dos últimos 17 anos, o serviço que disponibilizamos requer um rigor e uma atenção à qualidade exímios, para que guardemos sempre a melhor amostra de células estaminais possível, para tratamentos futuros. Já libertámos 88 amostras de células estaminais do sangue do cordão umbilical para tratamentos, 10 das quais de crianças portuguesas no âmbito de diferentes doenças, estes tratamentos foram realizados não só em Portugal, mas também no estrangeiro, o que revela a qualidade dos nossos processos e a segurança que os mesmos garantem às equipas médicas, que recorrem às células estaminais guardadas na Crioestaminal.
Quanto à área da Investigação e Desenvolvimento é necessária grande dedicação e foco, para conseguirmos ultrapassar os obstáculos e atingirmos os objetivos a que nos propomos, esforço também reconhecido nas quatro patentes que já registamos internacionalmente.

Apresente os objetivos primordiais que a Crioestaminal pretende atingir até ao final do ano e os que se propõe atingir até final de 2021.
O ano de 2020 tem sido bastante atípico e conturbado para todos nós, o que resulta para as organizações numa necessidade de resiliência e de flexibilidade constantes. Produzimos este ano um medicamento com células estaminais mesenquimais, semelhantes às do tecido do cordão umbilical, para doentes com pneumonias graves decorrentes de infeção por COVID-19, conseguimos fazê-lo em três meses, nunca teríamos definido, a produção deste medicamento, como um objetivo por nos parecer inatingível. A verdade é que a necessidade despoleta uma capacidade de ação e de desenvolvimento ímpar, que toda a equipa Crioestaminal, sem exceção, abraçou. A nossa expectativa é agora que este medicamento possa vir a ser útil a doentes que dele precisem até ao final do ano. Vamos continuar a trabalhar, como até aqui, para vincular informação relevante sobre as células estaminais do cordão umbilical de modo a que mais famílias reconheçam o benefício de guardarem este bem único. Mais do que nunca, é importante olharmos para saúde numa perspetiva de longo prazo, por isso de modo a que mais famílias possam decidir guardar as células estaminais do cordão umbilical, temos trabalhado de modo a desenvolver opções de acessibilidade, como por exemplo o pagamento do serviço numa lógica de anuidades, isto é, um valor mais baixo, do que o habitual, no ano do nascimento do bebé, e um pagamento anual pelos próximos 25 anos (cerca de 60Eur/Ano), ou a possibilidade de as famílias, apenas pagarem o serviço a partir de 1 de janeiro de 2021. Para as famílias que decidam não guardar as células estaminais do cordão umbilical, podem optar por doá-las à Crioestaminal para Investigação, sem qualquer custo, contribuindo assim para o avanço da Ciência e da Medicina, uma vez as amostras doadas serão incluídas nos nossos projetos de investigação.
Em 2021 continuaremos a desenvolver a área das terapias celulares de modo a produzirmos novos medicamentos com células estaminais, para doenças atualmente sem tratamento, e trabalharemos para continuar a garantir a melhor amostra de células estaminais a todas as famílias que guardem as células estaminais do cordão umbilical na Crioestaminal.