Da Ciência para a Economia Verde

O LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia definiu como objectivos desenvolver conhecimento e soluções para uma economia descarbonizada, proporcionando melhor qualidade de vida a todos os cidadãos e contribuindo para um melhor ordenamento do território. Teresa Ponce de Leão, Presidente do Conselho Diretivo do LNEG, abordou temas como a economia circular, sustentabilidade e desafios que fazem parte do presente e do futuro do laboratório.

 Apresente-nos o LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia.
O LNEG é um laboratório do Estado que, sob o  Lema “Construir um futuro mais limpo e melhor”, pretende contribuir de forma independente para o desenvolvimento económico e melhoria da qualidade de vida, colocando o conhecimento ao serviço da sociedade. Trabalhamos em duas áreas de referência: energia e geologia e somos um Research and Technology Operator, da terminologia anglo-saxónica, que investiga e desenvolve conhecimento com uma estratégia clara: aplicar esse conhecimento para uma economia verde. Assim colaboramos com o sector empresarial e no apoio ao nosso governo para o desenvolvimento de políticas.
Na área da energia trabalhamos, fundamentalmente, as energias renováveis e a eficiência energética, desenvolvendo os nossos projetos de forma a contribuírem para a sustentabilidade e quando falamos de sustentabilidade falamos dos pilares ambiental, social e económico. Todos os projectos têm métricas associadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A isto chamamos de economia verde, ou seja, estamos a contribuir para o desenvolvimento económico sem comprometer as gerações futuras.
Há um ponto importante, que foi sublinhado na COP26, e com o qual o compromisso é total, a tomada de decisão deve ser baseada no conhecimento científico, pois só desta forma conseguimos garantir que as decisões são passíveis de serem avaliadas em termos de impactos e monitorizadas ao longo da sua aplicação. Só avaliando é que conseguimos perceber se estamos a seguir a melhor estratégia.
Na temática da economia circular, o LNEG realiza investigação aplicada há mais de duas décadas nomeadamente no domínio do design para a sustentabilidade, com diversos projetos nacionais e internacionais. Nos últimos cinco anos, deu uma ênfase especial aos princípios e estratégias de circularidade, em linha com as tendências das políticas públicas, investigação e práticas empresariais. O LNEG aplica o design thinking ao desenvolvimento de produtos, serviços e modelos de negócio com uma perspetiva sistémica e holística, considerando as vertentes ambiental, social e económica da sustentabilidade contribuindo de forma clara e transparente para os ODS.
Na área da Geologia e dos recursos o LNEG desempenha o papel de Serviço Geológico Português sendo membro titular dos Serviços Geológicos Europeus, EuroGeoSurveys.
Desenvolve-se conhecimento geológico do país e a sua transposição para mapas geológicos, com produção de cartografia geológica básica e temática.
O LNEG trabalha também para as políticas públicas, nomeadamente para o ordenamento do território.

Que estratégias têm vindo a desenvolver?
Desde 2008 apostamos fortemente na colaboração, nacional e internacional. Ao nível internacional participamos nas melhores redes científicas das nossas áreas de conhecimento, nomeadamente, na European Energy Research Alliance (EERA) – maior aliança de investigação em energia da Europa, na Agência Internacional de Energia e noutras redes como a European Sustainable Energy Innovation Alliance que concentra a sua atividade na aplicação de conhecimento para as empresas e na formação.
No pilar da geologia, somos muito ativos no EuroGeoSurveys onde temos tido posições de decisão. Eu própria fui Presidente do EuroGeosurveys durante três anos e neste momento sou Vice-Presidente Executiva da EERA.
No patamar nacional apostamos na participação nos laboratórios colaborativos lançados pelo governo, quer da área da energia ou da geologia. Coordenamos o laboratório colaborativo BIOREF que está a desenvolver o Plano Nacional do Biometano, já apresentado ao Governo. Este plano surge como apoio a uma resposta do Governo português ao aumento dos preços da energia. É um plano ganhador em duas vertentes, pois diversifica as fontes de energia e mitiga o problema dos resíduos, sejam os Resíduos Sólidos Urbanos, sejam os resíduos da agricultura e da pecuária, fontes de poluição difusa.
Estamos na vanguarda do que de melhor se faz na Europa. Por exemplo, na EERA temos diálogos permanentes com a Comissão Europeia para percebermos como podemos orientar os projetos dentro da aliança e contribuir para os objetivos da Comissão Europeia. Simultaneamente conseguimos participar em projetos ganhadores de dimensão europeia, porque estamos com os melhores consórcios. Podemos apresentar vários exemplos, quer nas energias renováveis quer ao nível das SmartCities. O nosso portal apresenta todos os projetos em que participamos. Recentemente, através das competências da unidade de Economia de Recursos, começamos a colaborar numa iniciativa da EERA na modelação para a transição energética e que visa modelar diferentes cenários e avaliar os impactos nas emissões e nos custos de todas as decisões tomadas, desta forma conseguimos apoiar decisões e o tecido empresarial.

Que projetos estão a desenvolver com foco na sustentabilidade e na economia circular?
A economia circular é um modelo de produção e consumo que implica a redução do desperdício de recursos e resíduos.
Refiro alguns dos projetos:

1. CIRCO Hub Portugal (2021-2023) www.circohubportugal.lneg.pt
O LNEG coordena o CIRCO Hub Portugal, em parceria com a Agência Portuguesa do Ambiente e o IAPMEI. O objetivo principal é incentivar a economia circular através do design. Neste projeto, as empresas e os designers trabalham em conjunto para desenvolverem produtos, serviços e modelos de negócio circulares, segundo uma metodologia de formação desenvolvida nos Países Baixos (programa CIRCO).
As metas até ao final do projeto passam por capacitar 100 empresas que participam em tracks (séries de três workshops) de desenvolvimento de negócios circulares CIRCO e formar 60 designers, que participarão em sessões de um dia sobre design circular CIRCO.

2. eMaPriCE – Estudo de Matérias-Primas Críticas e Estratégicas e Economia Circular em Portugal (2021-2022) https://emaprice.lneg.pt/
O projeto eMaPriCE, desenvolvido no LNEG para a APA, visa identificar oportunidades de implementação de estratégias de Economia Circular a fim de evitar que as Matérias-Primas Críticas (MPC) se transformem em resíduos, bem como opções da substituição destas por matérias-primas não críticas.

3. KATCH_e: Knowledge Alliance on Product-Service Development towards Circular Economy and Sustainability in Higher Education (2017-2019) www.katche.eu
Coordenado pelo LNEG, o KATCH_e foi uma aliança de conhecimento entre o ensino superior (design, engenharias, economia e gestão), empresas e centros de investigação para promover a criação de novas competências em desenvolvimento de produtos e serviços para a economia circular e a sustentabilidade, com ênfase nos setores da construção e do mobiliário. Destacam-se os seguintes resultados:
Oito módulos de formação teóricos, disponíveis independentemente e coligidos num e-book;
Sete ferramentas inovadoras que suportam a implementação prática da EC;
Curso on-line de dez horas que aborda os recursos desenvolvidos;
Casos de estudos resultantes da implementação prática do KATCH_e;
Pólo de conhecimento, um centro de discussão e disseminação da EC.

4. START – “Sustainable energy harvesting systems based on innovative mine waste recycling”
Coordenado pelo LNEG, tem como objectivo principal a criação de uma cadeia de valor sustentável e de um ecossistema de inovação associados ao desenvolvimento de geradores termoelétricos sem telúrio, constituídos por semicondutores do tipo-p produzidos através da utilização direta de minério de tetraedrite, recolhido em escombreiras de minas abandonadas. A solução tecnológica proposta representa uma grande oportunidade para diminuir a dependência e o desperdício de recursos, de acordo com o Plano de Ação para a Economia Circular.

Principais resultados esperados:
Cadeia de valor inovadora
Nova oportunidade de mercado para os recursos minerais europeus
Reforçar a competitividade da UE em matéria de recursos
Ecossistemas de energia renovável
Novo ecossistema comercial.

Que preocupações têm e que estão associadas ao trabalho que desempenham?
Comunicar – de forma descomplicada sobre os impactos negativos de qualquer processo industrial e contribuir para que todos os impactos sejam minimizados para caminharmos para uma economia mais limpa e justa para as gerações vindouras.
Focalizar – através da aposta nos sectores da nossa competência que são importantes para a sustentabilidade e transformar esse conhecimento em resultados palpáveis e transferíveis para a sociedade.
Formar – temos forte colaboração com as Universidades e recebemos estagiários oriundos destes centros de ensino que colaboram nos nossos projectos.
Colaborar – só através de boas colaborações conseguimos alavancar bons resultados. Colaborar é a chave do sucesso.
Divulgar – sempre que produzimos conhecimento novo publicamo-lo nos canais científicos, mas também em policy briefs que estão disponíveis no nosso portal.

Quais são os desafios futuros para o LNEG?
Como referi, temos uma preocupação primeira de Apoiar as Políticas Públicas, sempre em linha com as orientações que recebemos de Instituições como a Comissão Europeia como o recente desafio designado REPowerEU que nos pede a implementação de projetos que mitiguem o impacto da guerra imposta pela Rússia. No REPowerEU há um princípio/necessidade que se chama go-to areas e que consiste em identificar áreas disponíveis nos países que permitam acelerar a implementação de projetos renováveis ou soluções de economia circular. Recentemente, apresentamos um produto de investigação para apoio a políticas públicas na área do Hidrogénio – refiro o Atlas Nacional do H2 Verde Sustentável, que se encontra disponível no geoPortal do LNEG (https://geoportal.lneg.pt/). O objetivo é aproveitar o nosso conhecimento na área da georreferenciação e  disponibilizar conhecimento ao nível dos recursos, energéticos ou geológicos, sob a forma de mapas inteligentes que permitem de forma ágil e simples identificar as melhores localizações para os projetos em perfeita harmonia com o nosso território e o ambiente. Fizemo-lo para o hidrogénio, mas também para o recurso eólico inshore e offshore, para o recurso solar ou geotérmico. A nossa preocupação é assegurar um estado de prontidão para implementar ações nas nossas áreas de competência.