Medicamentos biossimilares: Mais acesso, mais e melhor cuidados de saúde!

Os medicamentos biossimilares são conhecidos por serem uma solução mais acessível mas ao mesmo tempo segura e eficaz. Fernanda Aleixo, coordenadora da Comissão Técnica dos Medicamentos Biossimilares da Apogen, concedeu-nos esta entrevista onde abordou diversos pontos fundamentais sobre a importância dos medicamentos biossimilares. 

Os medicamentos biossimilares têm um papel imprescindível para as pessoas com doença e para o SNS. Para quem não conhece, explique em que consistem os medicamentos biossimilares e qual a importância dos mesmos para os doentes?
Um medicamento biossimilar é um medicamento biológico altamente similar a outro medicamento biológico aprovado – o seu medicamento de referência. Os medicamentos biológicos, biossimilares ou de referência, são produzidos em células vivas utilizando tecnologia de ponta, de acordo com o estado da arte.
Este tipo de medicamentos permite mudar significativamente o curso normal de doenças crónicas e incapacitantes, tais como a diabetes, doenças autoimunes e cancro. São constituídos por moléculas grandes e complexas, proteínas mais simples como as insulinas, ou mais complexas como os medicamentos para o cancro ou para doenças autoimunes.
Os medicamentos biológicos são onerosos, pelo que a sua utilização reserva-se para fases mais avançadas da doença, devido à necessidade de melhor uso dos limitados recursos públicos disponíveis, mitigando as iniquidades no acesso, ou seja, nem sempre a pessoa com doença elegível pode ser tratada com uma terapêutica biológica por limitações orçamentais. Por outro lado, e felizmente, temos cada vez mais inovação disruptiva, de valiosa contribuição, mas que também implica um investimento significativo, pelo SNS e pessoas, nos seus cuidados de saúde. Os medicamentos biossimilares, ao abrirem o mercado concorrencial, aumentam o acesso das pessoas com doença a estas terapêuticas biológicas, com a mesma eficácia e segurança que o seu medicamento de referência, mas mais acessíveis; assim, a sua utilização permite que sejam tratadas pessoas em fases mais precoces da doença com medicamentos biológicos, sem investimento adicional, permitindo que os recursos libertados possam ser investidos em mais e melhores cuidados de saúde, sejam eles financiando a inovação ou a contratação de mais profissionais de saúde. Todos estes fatores em conjunto são ganhos importantes em termos sociais, de saúde, financeiros e económicos.
Em suma: MAIS ACESSO, MAIS E MELHOR CUIDADOS DE SAÚDE!

Como é que as empresas podem melhorar o desempenho da assistência médica através da utilização de medicamentos biossimilares?
A melhoria do acesso e dos cuidados de saúde é um trabalho conjunto, entre a indústria farmacêutica, os prescritores, as pessoas com doença, as autoridades e os decisores. Devemos fazer o que consideramos mais adequado e necessário, divulgando material educacional aos profissionais de saúde, quer sobre os medicamentos que comercializamos, quer sobre a doença e consequências da mesma.
O que é necessário para obter a aprovação junto das autoridades de saúde?
A aprovação dos medicamentos biossimilares decorre como para os seus medicamentos de referência, aplicando-se os mesmos padrões de qualidade e rigor científico, utilizando a tecnologia mais moderna disponível. Os medicamentos são avaliados pela EMA (European Medicines Agency) e com o parecer positivo desta, são aprovados pela Comissão Europeia. A nível local temos a fase de financiamento, em que se aplicam as regras de comparticipação ou de avaliação prévia, tendo estes medicamentos um preço 20% ou 30% inferior ao do seu medicamento de referência.

No que diz respeito aos medicamentos biossimilares, quais são os principais desafios que enfrentam?
Sustentabilidade. Como é sabido, o desenvolvimento e produção de medicamentos biológicos é significativamente mais caro, complexo e limitado do que ocorre com medicamentos químicos. Para explicar melhor: não podemos acelerar à vontade um processo de incubação de uma célula, tal como não podemos alterar o tempo de uma gravidez. Os aumentos de custos na produção devido à pandemia, crise energética e agora o conflito na Ucrânia, agudizam muito os custos e flexibilidade das cadeias produtivas e de fornecimento. Associado a isto, temos alguns problemas na contratação pública, com preços demasiado erodidos, ou volumes estimados não adquiridos, ou volumes pedidos que não estavam estimados.
Precisamos de mais diálogo com a tutela, pois este foi limitado com a pandemia. O sistema nacional de saúde não existe sem fornecedores e necessitamos, em conjunto e com diálogo, encontrar soluções de equilíbrio para os dois lados, a bem da pessoa com doença, para que não haja ruturas ou falhas de fornecimento.