“Valorizamos o contacto pessoal com o cliente”

O atelier Santos Pinheiro Arquitetos Associados encontra-se situado em Lisboa, tendo sido constituído em 1964 pelo sócio fundador Nuno Santos Pinheiro. Em entrevista à Revista Qualidade & Inovação, Vasco Maria Santos Pinheiro, actual gerente da sociedade, deu-nos a conhecer os projetos que desenvolvem e a apresentar a equipa de arquitetos que os torna possíveis. Das suas palavras retiramos que cada projecto é um novo desafio e uma oportunidade para reflectir, para experimentar e para desenvolver novas ideias, sempre com o sentido de ir ao encontro das expectativas do cliente.

Quando foi fundado o Atelier Santos Pinheiro Arquitetos Associados?
O atelier Santos Pinheiro Arquitetos Associados constituiu-se como empresa e sociedade em 1994, dando continuidade ao atelier inicial fundado pelo meu Pai, Nuno Santos Pinheiro, na década de 60, na altura em que o meu Pai estava a desempenhar funções de presidente do Instituto Português do Património Arquitetónico, actual Direcção Geral do Património Cultural, e em que eu me encontrava a terminar o curso de arquitectura.

Para além da Grande Lisboa, quais são os locais de intervenção de maior destaque?
Temos tido, felizmente, ao longo destes anos, a possibilidade de desenvolver diversos tipos de projectos em diversas partes do país. Também trabalhámos, durante um curto espaço de tempo, para Angola e Moçambique, contudo, o território português e a área metropolitana de Lisboa tem sido, geograficamente, o nosso principal ambiente de trabalho. Para além de Lisboa, sempre tivemos muita intervenção no Algarve e no Ribatejo, para onde desenvolvemos, inclusivamente, os Planos Directores Municipais de Portimão e de Santarém.
Nos últimos anos, temos tido muitas solicitações para a reabilitação de edifícios nas zonas históricas de Lisboa. Nesse âmbito, contamos com cerca de 40 obras licenciadas no centro de Lisboa desde 2015. Fora de Lisboa temos tido oportunidade de desenvolver projectos muito diversos. Em Cascais, Sintra, Vila Franca de Xira, Almada e Sesimbra estamos a desenvolver alguns projectos de edifícios de habitação unifamiliar com alguma dimensão. Em Santarém, Alverca, Cartaxo, Azambuja e Torres Vedras estamos a desenvolver diversos projectos de loteamentos residenciais e, consequentemente, diversos projectos de edifícios de características mais contemporâneas. No Porto estamos a trabalhar num edifício de serviços e, na Maia, estamos a trabalhar num projecto para um pequeno centro logístico. No Alentejo também estamos a reabilitar alguns edifícios tradicionais, transformando pequenos “montes” alentejanos em casas de férias e segundas habitações, creio que consequência dos efeitos recentes da pandemia. Ainda no Alentejo temos em mãos dois projectos, muito interessantes, para duas grandes unidades de turismo rural. Uma no concelho de Grândola e outra no concelho de Reguengos de Monsaraz.

Gostaria de destacar algum projecto recente?
Para nós todos os projectos são motivo de destaque na medida em que são experiências únicas, cada um com as suas histórias e desafios, mas, naturalmente, que tenho de referir o projecto que desenvolvemos para a reabilitação do núcleo amuralhado do Castelo de Leiria, que envolveu a recuperação da Igreja de Nossa Senhora da Pena, da Casa do Guarda e das Cisternas Medievais, para além de todo o espaço exterior do Castelo. Foi um processo longo, de muita investigação, muito trabalho e muita dedicação que vimos compensado com a atribuição do Prémio SIL 2022 para o melhor projecto de Reabilitação Urbana na categoria de espaços e edifícios públicos.

Qual é o papel que a equipa desempenha na empresa?
A nossa equipa é pequena, mas coesa e dinâmica. Três dos arquitectos que a compõem foram, curiosamente, meus alunos na universidade o que lhes facilitou bastante a integração no atelier. Também por isso, o relacionamento que mantemos entre nós é muito transparente e proactivo. Acho que funcionamos bem em equipa. Ao fim de algum tempo a trabalhar juntos, fomos percebendo que, como é natural, as formas de trabalhar e as capacidades de trabalho de cada um são diferentes, e isso foi-nos permitindo distribuir os trabalhos que vamos tendo, também em função dessas características e dessas capacidades. Isto tem permitido atingir bons resultados. Normalmente, cabe-me a mim coordenar os projectos em curso, mas procuramos que cada um dos nossos colaboradores tenha também autonomia para desenvolver as soluções que vai encontrando ao longo do curso do projecto. Gostamos de debater as soluções entre nós e de abrir a discussão, no atelier, à volta de uma mesa. Valorizamos esse debate e gostamos de ouvir e de acrescentar as opiniões dos nossos clientes durante esse mesmo processo.

Quais são os principais pontos diferenciadores dos vossos serviços?
Acredito que um dos principais pontos diferenciadores é gostarmos de ter e de preservar uma relação próxima com os clientes. É fundamental percebermos quais são as expectativas do cliente. Os projectos são feitos por nós, mas os edifícios que projectamos são para ser utilizados por terceiros. E esse é um permanente desafio; pensar o projecto e pensar a solução na perspectiva do cliente e do futuro utilizador, mais do que na nossa própria perspectiva, de quem desenha e de quem erradamente se pode tentar a identificar-se como “dono” do espaço. É engraçado, mas acho que é uma deformação típica da profissão do arquitecto. Nesse sentido, valorizamos muito a relação pessoal com o cliente, gostamos de saber quem são, gostamos de os ouvir, de avaliar as suas expectativas e também, de seguir os seus conselhos. É legítimo afirmar que temos aprendido muito com os nossos clientes ao longo do tempo. É, e tem sido importante. Outro aspeto que nos distingue prende-se com a disponibilidade para oferecer diferentes soluções alternativas ao cliente. Gostamos de explorar soluções diferentes, avaliá-las em conjunto e decidir, finalmente, por aquelas que melhor servem os propósitos e os requisitos daquela situação, daquele lugar e daquele programa em concreto. Somos, e gostamos de ser flexíveis na nossa forma de trabalhar.
Também gostamos de poder oferecer aos nossos clientes soluções que se mostrem o mais completas possível. Não apenas pelos serviços que prestamos, onde incluímos, para além do trabalho de arquitectura, todos os projectos de especialidades necessários ao licenciamento e construção, desenvolvidos pelos nossos parceiros na área de engenharia, mas também pelos serviços que não prestamos, mas que aconselhamos, através de uma rede de parceiros com quem trabalhamos, e que abrange diversas áreas de actividade, desde a construção civil, ao restauro, à mediação imobiliária, ou à criação e gestão de fundos imobiliários.

Qual o papel da sustentabilidade para a vossa empresa?
Apesar da utilização de soluções mais ecológicas e sustentáveis ser mais complexa em certos projetos, procuramos promover a questão da sustentabilidade, da eficiência energética e dos materiais ecológicos junto dos nossos clientes. Não é um processo fácil, mas o facto é que a maior parte dos nossos clientes vai estando cada vez mais sensibilizada para essa realidade o que, felizmente, nos vem facilitando cada vez mais a abordagem aos processos. Nesta medida, para além das escolhas materiais, o desenho de soluções mais “amigas” do ambiente e mais sustentáveis do ponto de vista energético vai-se tornando uma prioridade e também (e ainda bem) uma realidade.
Contudo, este também é um enorme desafio. A designação e o prefixo “eco” é hoje um grande trunfo comercial. Contudo, entre a designação “eco” e a verdadeira sustentabilidade existe uma grande diferença e o facto é que temos hoje muitas construções cuja sustentabilidade está mais no nome no que na obra. Felizmente, creio, é uma situação que tende a inverter-se, até mesmo pela cada vez maior sensibilização dos promotores que, inclusivamente, também já perceberam que, neste contexto sustentável, existem maiores benefícios de conforto e qualidade, para além de financeiros e comerciais.  

Qual o objetivo que não abdicam no decorrer de cada projeto?
O nosso principal objectivo, em todos os projectos que desenvolvemos, é a qualidade. Não apenas a qualidade técnica da solução, do projecto, mas também a qualidade do serviço que prestamos, no acompanhamento do cliente e, naturalmente, no acompanhamento da obra.
Gostamos, e fazemos questão de poder levar a obra até à sua conclusão, participando ativamente na sua fase de construção. Aliás, acreditamos mesmo que é aí que está o grande trabalho do arquitecto: na obra.

Como avalia a evolução da SP Arquitetos e Associados?
Avalio de forma positiva. Os cenários de vulnerabilidade financeira são uma realidade. Mas queremos acreditar que vamos continuar a trabalhar bem e a conseguir equilibrar essa instabilidade com o nosso esforço e a nossa dedicação. Esse é, aliás, outro aspecto que também nos distingue. Somos realistas, mas também somos positivos. Acreditamos que a solução é sempre proveniente da nossa dedicação, resiliência e preserverância.
O ano de 2022 tem sido um bom ano. Neste momento temos trabalho angariado que nos permite ambicionar um bom segundo semestre e prever que iremos entrar em 2023 com novos trabalhos. Mas não podemos deixar de estar atentos aos muito sinais da nossa economia, relativamente ao futuro próximo.
Também, ao longo do tempo temos procurado ampliar a nossa área de actuação, ampliar a nossa capacidade de trabalho e modernizar o método de projecto. A entrada no universo BIM e a sua implementação no nosso atelier é hoje uma realidade que estamos a aprofundar. Novas ferramentas, novos métodos, para novas e, acreditamos que, melhores soluções. Desta forma, iremos conseguir aumentar ainda mais os níveis de qualidade e de resposta. E até maior rapidez.
Finalmente, sentimos que temos um património, de muita dedicação à arquitectura e de muitos anos de trabalho de projecto a preservar. Por isso procuramos respeitá-lo, dando continuidade aos objectivos do meu Pai quando criou na década de 60 do século passado, este atelier. Pretendemos preservar o nosso nome de família associado à arquitectura e urbanismo, garantindo-o como uma marca de qualidade e de confiança.